segunda-feira, 26 de julho de 2010

Um homem não pode ter dor de cabeça?

O beijo de Iker Casillas à namorada (e jornalista) Sara Carbonero após a vitória da Espanha no Mundial foi um daqueles beijos para ficar na história dos beijos. Como o maravilhoso ‘Baiser de l’Hotel de Ville’ (1950), de Robert Doisneau. A foto do beijo de um marinheiro americano a uma enfermeira em Times Square, tirada em 1945 por Alfred Eisenstaedt. O arrebatado beijo na praia entre Burt Lancaster e Deborah Kerr em ‘Até à Eternidade’ (1953), de Fred Zinnemann. Ou, nos tempos mais modernos, o espantoso beijo à chuva (e de pernas para o ar) entre Tobey Maguire e Kirsten Dunst no primeiro ‘Homem-Aranha’ (2002) de Sam Raimi.

Tudo beijos memoráveis, que hoje fazem parte da galeria romântica dos séculos XX e XXI. Mas da mesma forma que beijos destes merecem ser celebrados, convém salientar que também há negas dignas da maior admiração. E é isso que me proponho aqui homenagear: a bela tampa que o lateral-esquerdo espanhol Joan Capdevila deu à repórter e ex-miss Argentina Romina Belluscio. Para quem não viu, eu conto a história. Numa daquelas entrevistas rápidas pós-jogo, a bombástica Romina perguntou a Capdevila se podiam repetir ali o beijo entre Casillas e a namorada. Ele respondeu-lhe: “não, não. Tu não és o meu tipo”. Depois riu-se muito e foi-se embora a correr.

O vídeo deste não-beijo também correu o planeta. Não só porque Romina é, a bem dizer, o tipo de qualquer homem, mas também porque vivemos num mundo estruturalmente machista, onde a tampa de um homem a uma mulher bonita ainda é vista com surpresa. O que está subentendido pelo facto de aquele vídeo ter sido alvo de tanta atenção é, em linguagem de taberna: “eh lá, gajo que é gajo não dá negas a uma gaja boa”. E se a conversa continuasse, provavelmente seguir-se-iam considerações sobre a verdadeira sexualidade de Capdevila (que por acaso tem mulher e um filho).
Ora, já vai sendo tempo de acabar com o mito do homem “sempre pronto”, que tal como o cão de Pavlov saliva de cada vez que uma mulher toca a campainha. Esta coisa de só as mulheres terem direito à dor de cabeça e de um tipo ter de estar sempre predisposto a multiplicar a espécie é um totalitarismo sexual que urge combater. Um verdadeiro democrata é democrata em todo o lado – inclusive na cama. Por isso, vai daqui um grande abraço para Capdevila. És o maior, meu.

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